O Hipotireoidismo, independente da causa, é caracterizado por deficiência da glândula tireoidiana em produzir os seus hormônios triiodotironina (T3) e tetraidotironina ou tiroxina (T4). A tireoide produz proporcionalmente mais T4 do que T3 (mais de 90% da produção é de T4), porém o T3 é o hormônio mais ativo, pois é cerca de 4x mais potente conferindo a ação mais plena dos hormônios tireoidianos. O T4 é convertido em quase sua totalidade perifericamente nos tecidos em T3. Como o hipotireoidismo por definição é uma doença da glândula e não uma doença sistêmica de conversão hormonal, os principais guidelines recomendam o tratamento apenas com o hormônio T4, ou seja, com a levotiroxina, molécula sintética e bioidêntica ao T4, sendo as principais marcas comerciais disponíveis hoje no Brasil o Puran T4, Synthroid, Euthyrox e Levoid.
No entanto, cerca de aproximadamente 10% dos pacientes com hipotireoidismo em tratamento convencional mantêm parte das queixas como cansaço excessivo, sonolência, indisposição, queda de cabelo, unha fraca, inchaço e etc, mesmo aparentemente otimizados no tratamento, demonstrado pelas taxas hormonais adequadas no sangue. Cada vez mais, esse grupo de pacientes desafiam os endocrinologistas a buscarem uma alternativa no tratamento para amenizar essas queixas, que mesmo não sendo específicas do hipotireoidismo precisam da atenção dos endócrinos e de uma ação por parte desses para solucionar os sintomas do seu paciente.
Portanto, seguindo o raciocínio de que a queixa existe e que o hormônio ativo principal é o T3 e não o T4, faz sentido propor ao paciente o tratamento combinado. Muitos estudos avaliaram nas últimas décadas a eficácia do tratamento combinado porém os resultados são controversos. Os principais estudos não apontaram benefícios reais em melhorar os sintomas do hipotireoidismo no tratamento combinado, mas da mesma forma, os estudos não condenam seu uso, concluindo que a administração combinada T3/T4 é segura, na concentração adequada, mas talvez não mais eficaz, ou seja, poderíamos concluir que o tratamento isolado com T4 é equivalente ao tratamento combinado.
Algumas pesquisam demonstram a existências de alterações genéticas implicadas no metabolismo periférico de conversão do T4 em T3, isso poderia explicar a sintomatologia em alguns pacientes tratados apenas com a levotiroxina. Nesse grupo de pacientes seria uma opção a associação com baixas doses de T3 visando melhorar queixas como indisposição, cansaço, ganho de peso e perfil de colesterol por exemplo. Não existe formulações prontas do T3, é necessário manipular, outro motivo de preocupação dos endocrinologistas, de confiar na manipulação. Além disso, muitas vezes é necessário que o T3 seja tomado em 2x ao dia. Consulte seu endocrinologista se você tem hipotireoidismo e mantém algumas das queixas, ele certamente poderá te ajudar a esclarecer melhor suas dúvidas e conduzir seu tratamento de forma mais adequada.
Dra. Vanessa Aoki Santarosa Costa
Médica Endocrinologista formada pela Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo
Mestrado pela Escola Paulista de Medicina em Tireoidologia - Universidade Federal de São Paulo
Foi médica colaboradora no Ambulatório de Diabetes Gestacional da UNIFESP
Atua em consultório médico particular na Vila Mariana, Zona Sul, São Paulo.