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O que o sal do Himalaia pode ter a ver com sua tireoide.

Foto do escritor: Dra. Vanessa SantarosaDra. Vanessa Santarosa


Os brasileiros cada vez mais estão se preocupando com sua saúde e buscando alimentos mais naturais e saudáveis para o consumo diário. Dentro dessa perspectiva, recentemente o sal do Himalaia ganhou força nas prateleiras das lojas de produtos naturais e também na cozinha brasileira sob a alegação de tratar-se de um sal não refinado, natural, mais “saudável e melhor”. No entanto, a despeito de toda essa publicidade de mercado, cientificamente não há nada comprovado que garanta que o sal do Himalaia seja melhor para o consumo, muito pelo contrário, o fato desse sal não ser manipulado pode trazer graves riscos a sua saúde. Alguns modismos são potencialmente perigosos. Vamos entender o porquê nesse caso.

            É verdade que o sal de cozinha vem sendo cada vez mais taxado de prejudicial à saúde pois eleva a pressão arterial, aumenta a retenção hídrica e pode criar um desbalanço dos eletrólitos no sangue. Isso porque os brasileiros consomem em média 10 a 12g de sal por dia, mais do que o dobro recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O sal de cozinha tem como principal componente o cloreto de sódio, grande vilão na piora da hipertensão arterial sistêmica e retenção hídrica. Por outro lado, nosso sal contém, artificialmente, um mineral indispensável à saúde, sobretudo para o bom funcionamento da sua tireoide: o iodo.

            O iodo é um micronutriente usado pela tireoide para a produção de seus hormônios T3 e T4. Para garantir um aporte adequado desse nutriente, vários grupos internacionais como ICCIDD, OMS, US National Academy of Sciences e UNICEF recomendam um consumo diário de iodo de no mínimo 150 mcg para adultos, 220 mcg para gestantes, 290 mcg para mulheres em aleitamento materno e entre 90 a 120 mcg para as crianças. Em nosso meio, e mundialmente, a principal fonte de iodo é o sal de cozinha. Mais de 120 países no mundo todo introduziram programas de fortificação de iodo no sal de cozinha. No Brasil por exemplo, tornou-se lei na década de 50 que nosso sal fosse iodado e atualmente cada quilo de sal deve conter entre 20 a 60 mg de iodo. Em menor quantidade, podemos encontrar o iodo nos frutos do mar e peixes de água salgada. Algumas medicações como a amiodarona contém grande quantidade de iodo assim como suplementos a base de iodo como a solução de Lugol, cuja 1 gota contém cerca de 6,30 mg, 40 vezes mais do que o recomendado. Enquanto a deficiência de iodo propicia o cretinismo, maior causa evitável de deficiência mental existente no mundo, bócio e possivelmente formas mais agressivas do câncer de tireoide, o excesso de iodo pode levar também a sérios problemas de saúde. Portanto consumir iodo na quantidade certa é fundamental.

          A Organização Mundial de Saúde em 2016 conduziu uma pesquisa para analisar a composição de alguns sais ditos especiais, dentre eles o Sal do Himalaia.  Tais sais, ao contrário da suposta alegação de que eles contêm menos sódio, possuíam na verdade na sua composição uma média de 94% de cloreto de sódio, continham menos de 2% dos níveis de nutrientes recomendados, níveis elevados de ferro, porém ferro de baixa biodisponibilidade e o principal, não continham iodo em sua composição. Portanto a conclusão que a OMS chegou foi a de que tais sais não possuíam qualquer benefício para a saúde, pelo contrário, houve uma preocupação de que o Sal do Himalaia, por exemplo, não seria adequado para o consumo por não ser enriquecido com iodo.

            Portanto, é importante que o sal de cozinha refinado faça parte da mesa do brasileiro para garantir o aporte de iodo necessário para o bom funcionamento da tireoide. Mas é importante, da mesma forma, que o sal esteja presente de forma racional e não ultrapassando os limites para o bem estar de sua saúde, ou seja, não excedendo os 5 gramas de sal diário recomendado pela Organização Mundial de Saúde.




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