A melatonina é um hormônio derivado da serotonina e secretado pela glândula pineal no período noturno. Uma característica peculiar desse hormônio é que sua produção não é regulada pelo famoso sistema de retroalimentação como nos demais hormônios do eixo hipotálomo-hipofisário (cortisol, hormônio tireoidiano, hormônio do crescimento e os hormônios sexuais), ou seja, sua concentração plasmática não regula sua produção. Desde que não haja estimulação luminosa artificial, como luzes acesas ou aparelhos eletrônicos ligados, a melatonina é produzida e secretada de forma rítmica circadiana sincronizada ao ciclo manhã-noite, cujo o pico de produção se dá a noite. A presença de luminosidade no meio ambiente pode bloquear completamente a síntese da melatonina naquela noite podendo ocasionar consequências a curto prazo como noites mal dormidas ou insônia e, consequências a longo prazo, como alterações no metabolismo energético e doenças metabólicas. Entenda o porquê.
O efeito clínico mais conhecido e estudado da melatonina é como agente regulador do ciclo sono-vigília, já fazendo parte nos Estados Unidos do tratamento de alguns distúrbios do sono como insônia por fase retardada, fragmentação do sono, ajuste do sono em idosos, em casos de dificuldade para iniciar o sono e de dessincronização entre dia e noite e ciclo sono-vigília, como em alguns tipos de cegueira. Porém vale ressaltar que a melatonina não é regulamentada pelo FDA como remédio, essa substância é comercializada no rol de suplementos alimentares e está amplamente disponível nos Estados Unidos.
Diversos estudos têm demonstrado a importância da melatonina em outras funções do organismo, tais como sua ação antioxidante, neurotrófica e neuroplástica, sendo inclusive utilizada como tratamento coadjuvante em doenças neurológicas degenerativas que trazem como prejuízo distúrbios no ritmo biológico circadiano, é também utilizada no tratamento de enxaqueca, transtornos depressivos, tratamento antitumoral e metastático e doenças metabólicas. Com relação a esse último, existem evidências científicas de que a deficiência de melatonina predispõe à resistência insulínica, intolerância à glicose e alterações na secreção de insulina contribuindo para o desenvolvimento do diabetes, obesidade e distúrbios do balanço energético. A falta de melatonina desregula o ciclo ingestão alimentar x jejum relacionado ao período sono-vigília, em outras palavras, no período em que estamos acordados interagimos com o meio ambiente gastando energia e adquirimos energia através da alimentação, e no período de repouso ou sono mobilizamos nossos estoques energéticos. A desregulação desse ciclo leva ao desaparecimento das fases de secreção de insulina mediada pela glicose durante a alimentação e a fase de resistência insulínica hepática no jejum, resultando em distúrbios metabólicos importantes. Além disso sabe-se que a melatonina ajuda a regular as diversas etapas do balanço energético, desde a ingestão alimentar, armazenamento nos estoques energéticos e gasto calórico pelo organismo. Por ação central, a melatonina reduz discretamente a ingesta alimentar sendo um hormônio anorexígeno de fraca intensidade, ajuda a regular a secreção de glucagon, insulina e cortisol, importantes hormônios relacionados no estoque das reservas energéticas e, mais proeminentemente, acelera o gasto calórico por incrementar o tecido adiposo marrom. É portanto, um hormônio antiobesogênico, importante para o controle do peso corpóreo. No entanto, ainda não existem evidências para o uso da melatonina como medicação emagrecedora. Por hora, acredita-se que melhorando a qualidade do sono do paciente, seja com o uso da melatonina ou não, haverá condições metabólicas favoráveis para o emagrecimento e prevenção de doenças metabólicas futuras. Na mesma linha, a suplementação com melatonina parece melhorar o controle do diabetes através da melhora da resistência insulínica, da função das células beta pancreáticas e até proteção de órgãos frequentemente afetados pelo diabetes como retina e rins. Existe também algumas evidências para o uso da melatonina para fins estéticos, como a melhora da pele em idosos. A pele é na verdade o local do corpo humano onde encontramos as maiores concentrações desse hormônio, onde a melatonina age como agente anti-odixante contribuindo para combater os efeitos do envelhecimento na pele, melhorando sua hidratação e integridade.
A principal causa de deficiência na produção noturna de melatonina é a fotoestimulação. Portanto, se a partir das 20h, horário em que se inicia sua produção, o indivíduo se expõe a luz artificial ambiente ou manuseia smartphone, TV ou computadores, a síntese de melatonina é prejudicada ou mesmo bloqueada naquela noite. Caso isso se torne uma rotina, a pessoa exposta muito tempo a deficiência de melatonina certamente apresentará distúrbios do sono e consequências metabólicas. Especula-se que esse seja um dos fatores por trás da epidemia de obesidade no mundo moderno. Uma proposta para minimizar isso seria eliminar o comprimento de onda de luz azul, de 480 nanômetros, justamente o comprimento de onda emitido pelo LED de luz azul presente em computadores, televisores e smartphones. Esse comprimento de onda é o responsável por controlar a ritmicidade circadiana e produção de melatonina. Alguma empresas estão focadas nessa problemática produzindo inclusive películas para colocar na tela e filtrar a luz azul. Mas certamente a melhor forma para manter seus níveis de melatonina normais é no período noturno evitar a exposição a computadores, televisão ou telefones, ter o hábito de diminuir a intensidade luminosa e dormir mais cedo.
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