O conceito popular de que vitaminas fazem bem a saúde é verdadeiro, especialmente no que se refere a vitamina D, pois nós endocrinologistas a consideramos não só uma vitamina e sim, um hormônio. Ao contrário das outras vitaminas, o colecalciferol, mais conhecido como vitamina D, não tem como fonte principal a dieta pois menos de 10% das necessidades diárias dessa vitamina provém dos alimentos. Na verdade, a vitamina D é naturalmente produzida na pele. No entanto, essa produção depende da exposição solar, uma vez que os raios ultravioleta promovem uma reação na epiderme (pele) originando o colecalciferol que posteriormente sofre conversão no fígado em calcidiol que finalmente é convertido em calcitriol no rim, hormônio metabolicamente ativo.
O estilo de vida moderno, baseado no trabalho e convívio diário em ambientes fechados impede naturalmente a exposição solar. Além disso, o uso de protetor solar e outras medidas de prevenção para doenças como o câncer de pele tem propiciado uma epidemia mundial de deficiência de vitamina D. Entretanto, níveis de vitamina D adequados são fundamentais para o metabolismo ósseo, uma vez que esse hormônio é responsável pela absorção intestinal de cálcio e fósforo. Ou seja, em sua atuação final é indispensável para a mineralização e formação de arquitetura óssea de boa qualidade, ajudando por exemplo a prevenir a osteopenia e a osteoporose.
Nos últimos anos, uma série de artigos e estudos sobre a vitamina D colocam em destaque os benefícios relacionados a uma adequada suplementação desse hormônio. Possivelmente, a vitamina D tem múltiplas ações no organismo, uma vez que temos receptores para esse hormônio no corpo todo. Estudos sugerem que níveis adequados da vitamina D podem estar relacionados a prevenção de alguns tipos de cânceres, obesidade, diabetes, além de diminuir o risco de doenças cardiovasculares e autoimunes, também atuando na melhora da imunidade e reduzindo o risco de desenvolver demência.
Pesquisas demonstram que a vitamina D ajuda a regular a produção de adrenalina e dopamina no cérebro e impede a depleção de serotonina. Por essas razões, sua deficiência poderia implicar em maior risco de depressão e alteração do humor.
Um artigo recentemente publicado na respeitada revista americana The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism (JCEM, February 2016) concluiu que altas doses de vitamina D reduzem significativamente a ativação das células T CD4, comprovando a influência da vitamina D sobre o sistema auto-imune e sugerindo que pacientes com doenças autoimunes tais como diabetes do tipo 1, tireoidite de Hashimoto (hipotireoidismo autoimune) e esclerose múltipla poderiam se beneficiar com altas doses de vitamina D.
Apesar de algumas evidências relacionando insuficiência de vitamina D e aumento do risco cardiovascular (infarto, AVC e hipertensão) até o momento não é recomendado a reposição para a prevenção dessas doenças. A literatura não é conclusiva quando o assunto é câncer e vitamina D, alguns estudos demonstram que quanto menores os níveis de vitamina D maiores as chances de câncer coloretal, mama e próstata. Entretanto, tais estudos são observacionais, apresentam um número reduzido de pacientes e tempo de seguimento curto, o que dificulta qualquer conclusão. Nesse sentido, o crescente número de pesquisas que apontam os benefícios da vitamina D incentivaram a comunidade científica a desenvolver estudos capazes de comprovar a eficácia da vitamina D em determinadas doenças, como é o caso dos estudos VITAL e D2d que estão em andamento e logo nos trarão algumas dessas repostas. O estudo VITAL (The VITamin D and OmegA-3) é um ensaio clínico randomizado com duração prevista de 5 anos, envolvendo 26.000 adultos comparando placebo e suplementação com 2.000 Ui diária de vitamina D. O desfecho primário estudado é a prevenção de doenças cardiovasculares, câncer, hipertensão, demência e doenças autoimunes. O outro estudo conduzido pela Tufts University testará se doses diárias de 4.000Ui de vitamina D previnem a evolução de pacientes com pré diabetes para o diabetes.
Os últimos consensos da Endocrine Society e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia recomendam doses diárias de vitamina D a depender da faixa etária. As doses de manutenção variam de 400 a 600 unidades/dia, sendo que pacientes considerados em grupo de risco necessitam de doses maiores. Idosos no geral necessitam de doses diárias entre 1.000 a 2.000 Ui, pacientes obesos ou com alguma doença de má absorção gastrointestinal e usuários de anticonvulsivantes podem precisar de doses 2 a 3x superiores. Além disso, quando as taxas de vitamina D são deficientes, ou seja, abaixo de 20 mg/ml, é necessário uma dose de ataque para repor os estoques, que pode chegar a 50.000 Ui/ semana. No geral, a reposição de 100 Ui de vitamina D gera um aumento de 0,7 a 1,0 ng/ml na concentração sanguínea
desse hormônio.
Portanto, a decisão de reposição de vitamina D bem como sua dose adequada devem ser discutidas com seu médico endocrinologista e baseadas nos seus níveis de vitamina D, doenças existentes, antecedentes pessoais e familiares e nas evidências
científicas atuais.
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