O aumento dos níveis de colesterol (dislipidemia) se associa a um maior risco de eventos cardiovasculares e mortalidade. Estudos mostram que o controle da dislipidemia e, em particular, os níveis de LDL-colesterol (fração "ruim" do colesterol) reduz drasticamente esse risco. O risco da doença aterosclerótica coronariana aumenta significativamente e progressivamente a partir dos valores limítrofes do colesterol total e LDL-colesterol. Em relação ao HDL-C, o risco aumenta à medida que seus valores diminuem. As evidências atuais indicam que a hipertrigliceridemia (>200mg/dl) isoladamente tem pouco valor para a doença cardiovascular, porém quando associada ao HDL-colesterol diminuído e/ou LDL-colesterol aumentado o risco existe. A associação dessas alterações lipídicas com outros fatores de risco clássicos como diabetes, hipertensão e tabagismo intensifica a morbi-mortalidade por doença coronariana. Laboratorialmente, existem 4 formas de apresentação das dislipidemias:
1) valores aumentados do colesterol total, também chamado de hipercolesterolemia isolada;
2) valores aumentados dos triglicérices ou hipertrigliceridemia isolada;
3) valores aumentados do colesterol total e dos triglicérides ou hiperlipidemia mista e
4) valores diminuídos do HDL-colesterol isoladamente ou em associação a alterações do LDL-colesterol e/ou dos triglicérides.
Uma vez que a dislipidemia é uma doença crônica e assintomática, identificar os indivíduos sob risco precocemente e tratá-los de forma adequada alcançando as metas preconizadas representam importantes benefícios na saúde e longevidade. Para isso, atualmente as principais diretrizes nacionais e internacionais propõem um escore de risco classificando os pacientes em alto risco, risco intermediário e baixo risco, propondo metas de colesterol diferenciadas para cada grupo. O escore de risco global calculado para cada indivíduo avalia os seguintes parâmetros: idade, pressão arterial sistêmica, niveis de colesterol total e HDL-colesterol, tabagismo e diabetes. Para pacientes de alto risco ou seja, indivíduos com risco superior a 20% em 10 anos de apresentar novos eventos cardiovasculares (incluem-se nesse grupo pacientes com doença aterosclerótica estabelecida, diabetes melito tipo 1 ou 2 e doença renal crônica por exemplo), o ideal seria diminuir o LDL-colesterol em 50% ou mais, pacientes com risco intermediário deveriam ter seu LDL-colesterol diminuído em 30 a 50% dos seus níveis e por fim, os indivíduos de baixo risco uma diminuição menor do que 30%. A hipertrigliceridemia tem como principal consequência o risco aumentado para pancreatite e, isoladamente, não parece ser elemento aterogênico segundo a maioria dos estudos clínicos. Contudo, há consenso que os triglicérides são importantes marcadores metabólicos, sinalizando para outras alterações com potencial aterogênico. O tratamento das dislipidemias tem por finalidade fundamental a prevenção primária e secundária da doença aterosclerótica. A terapêutica é iniciada sempre com mudanças de hábitos de vida tais como dieta pobre em gorduras, controle de peso, atividade física regular e combate ao tabagismo, associado ou não ao uso de medicações específicas. A principal classe de medicações para o tratamento das dislipidemias são as estatinas. As estatinas além de diminuirem de forma eficaz e segura os níveis de colesterol, trazem benefícios também para o endodélio vascular. Os principais representantes das estatinas são a rosuvastatina, a atorvastatina, a sinvastatina e a pravastatina, com potências e doses específicas. A monitorização do uso dessa classe de medicamentos requer dosagens das enzimas hepáticas e da CPK, quando há sinais e sintomas de hepatotoxicidade ou miopatia, respectivamente.
Dra. Vanessa Aoki Santarosa Costa
Médica Endocrinologista formada pela Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo
Mestrado pela Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo
Atua em consultório médico particular na Vila Mariana, Zona Sul, São Paulo.