Adoçantes e o risco de doenças metabólicas
À luz do conhecimento atual, o consumo de adoçantes substituindo açúcares parece ser uma escolha mais saudável e benéfica, uma vez que o consumo excessivo de açúcar está intimamente relacionado a problemas como obesidade, diabetes, doenças cardíacas e até mesmo câncer. Cerca de 30% ou mais dos brasileiros consomem produtos contendo adoçantes e estudos que medem essas substâncias no sangue e na urina demonstram que pessoas que relatam não usá-las as consomem sem saber. Porém o crescente número de estudos sobre adoçantes nos fará repensar essa escolha.
O primeiro grande estudo que alertou para os perigos dos adoçantes foi publicado na conceituada revista Nature em 2014. Os pesquisadores usaram vários adoçantes, dentre eles a sacarina para alimentar ratos e após 11 semanas de consumo foi verificado que esse grupo de animais apresentou maiores taxas de intolerância à glicose, um marco para desenvolver diabetes e aumentar as chances de síndrome metabólica. Posteriormente, foi administrado ao grupo que consumiu adoçante, antibióticos para eliminar bactérias da microbiota intestinal e dessa maneira a intolerância a glicose foi prevenida. Além disso, os pesquisadores transferiram a microbiota de ratos que consumiram a sacarina para o intestino de ratos saudáveis e estes, após um tempo, também se tornaram intolerantes à glicose, o que sugere que a sacarina de alguma forma modificou a microbiota intestinal tornando-a propensa a causar intolerância à glicose. Os mesmos pesquisadores recrutaram um pequeno grupo de pessoas saudáveis que naturalmente já usavam adoçantes e propuseram o consumo diário máximo de sacarina permitido por 1 semana e após esse período mais da metade dos voluntários se tornaram intolerantes à glicose e apresentaram mudanças em sua flora intestinal para um grupo de bactérias sabidamente relacionadas a predisposição para doenças metabólicas. A outra metade dos participantes pareceu ser resistente aos efeitos deletérios da sacarina. Esses dados traduzem a importância da personalização da dieta pois os efeitos dos adoçantes parecem ser distintos de pessoa para pessoa.
Em outro artigo recentemente publicado em julho desse ano no Canadian Medical Association Journal, um grupo de pesquisadores canadenses avaliaram num estudo de metanálise 37 artigos sobre o uso de adoçantes e controle do peso avaliando mais de 400.000 pessoas num período de seguimento de 10 anos. A conclusão do estudo foi que adoçantes não parecem ajudar na perda de peso, pelo contrário, sugere que pessoas que consomem adoçantes através de bebidas diets têm maior chance de ganho de peso, obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. Dentre os possíveis mecanismos que explicam esses achados estariam as seguintes suposições: 1) pessoas que consomem produtos diets acabam comendo mais, um mecanismo de compensação por ingerirem adoçantes ou alimentos sem açúcar; 2) nosso corpo responde ao gosto de açúcar porém fica confuso pois não existe caloria associado, alterando o metabolismo e predispondo ao ganho de peso; 3) adoçantes aparentemente podem alterar nossa microbiota intestinal o que poderia influenciar no ganho de peso e desenvolvimento de doenças como o diabetes.
Em um estudo conduzido pelo Departamento de Medicina da Universidade de Washington, envolvendo obesos mórbidos, grupo que frequentemente os médicos recomendam o uso de adoçantes no plano terapêutico para emagrecimento e prevenção do aparecimento de diabetes, verificou-se que o uso de adoçante induzia um aumento na concentração de insulina 20 vezes maior quando se ingeria um copo de água com adoçante quando comparado com o consumo de apenas água. A hiperinsulinemia poderia representar resistência à insulina e ser um evento predisponente ao desenvolvimento do diabetes.
Tais estudos servem de alerta e demonstram que existe algo mais importante do que “economizar” calorias no consumo dos adoçantes. Nenhum desses estudos comprovou causalidade, porém parece existir uma relação entre o consumo de adoçantes e problemas metabólicos. Diante da crescente descoberta sobre os adoçantes devemos repensar o real benefício de consumi-los indiscriminadamente, um alerta para médicos e pacientes.